domingo, 24 de maio de 2009

O defunto foi emprestado.

RIO — Em longos anos de convívio em oficinas, encontramos naturalmente, toda a espécie de gente.

Maníacos, sabidos, tolos, vigaristas, etc. Temos que aprender muitos 'truques" com essa gente, senão estamos sujeitos a entrar numa "tubulação sem fim", caindo como "pato".

Em Ilhéus mesmo, trabalhei com elementos que, com qualquer descuido, botava o companheiro para trás, pois tramavam as mais deslavadas desculpas para aplicarem certeira “facada”. Outros com as mais extravagantes manias, tais como aquele colecionador de Cadernetas Prediais, e outro teimando em não comprar roupa sob a justificativa filosófica de que um só corpo, necessita de uma só roupa Havia também companheiro que pedia dinheiro emprestado para emprestar a juros.

Num campo tão vasto como o Rio, o número de tais elementos é muito maior. Em, grandes oficinas, onde, no meio tempo, existia uma solidariedade digna da nota, as listas de ajuda ou rifas para colaborar com alguém que estava na ‘lona', etc. surgiam sem que se procurasse fazer uma investigação.

Certa vez um companheiro, dia após o casamento, pôs na rifa a gravata e o sapato da Cerimônia e fi¬ou feroz quando um camarada fez esta advertência: "Neste andar você acaba rifando a mulher".

Mas o golpe mais "fora de série" que tive noticias, foi aplicado por um colega gráfico, na época trabalhando no Jornal do Brasil e me contado por Jayme "Baixinho".

Depois de outras investidas, certo dia o colega chega nas oficinas com uma lista para enterrar o filho. Apesar de bastante conhecido, a turma achou que daquela vez o homem falava a verdade, uma vez q«e o personagem central era um seu ente querido.

A lista correu em todas as seções, com os colegas pesarosos colaborando, inclusive fazendo vales para poder ajudar ao colega, numa hora difícil.

Uma comissão iria ao enterro, indo à frente o chefe do setor onde trabalhava o colega. Lá chegando, encontrou o corpo da criança, estendido numa mesinha na sala,

Depois da cerimônia do sepultamento, o chefe da turma lembrou que não havia dado os pêsames a mãe da criança e resolveu voltar para apresentar as condolências a senhora. E é neste momento que foi surpreendido, pois a esposa do colega simplesmente declarou:
— .Eu não sou a mãe da criança morta. Apenas meu esposo sugeriu a verdadeira mãe, nossa comadre, que fizesse o velório em nossa casa, de onde saiu o enterro. :

Rubens E Silva. Jornal da Manhã Ilhéus/BA 12/12/1977

Nenhum comentário: