RIO — Nos velhos tempos da "State", os passeios recreativos ferroviários eram uma constante. Toda a região servida pela antiga 'Ilhéus à Conquista', que nunca passou de Itabuna, era visitada, invariavelmente, por desportistas e algumas vezes por entidades sócio-rccreativas.
A festa do padroeiro das localidades servidas pela estrada ou mesmo por motivo político e, ainda, em comemoração a um aniversário, se realizava uma excursão através dos velhos vagões da tradicional empresa dirigida por ingleses e que proporcionava empregos à várias dezenas de pessoas.
Foi justamente numa destas viagens, com. destino a Itapira. que se tornou histórica através de um acontecimento político ocorrido há cerca de 40 anos, quando Ilhéus era administrada pelo prefeito Eusinio Lavigne.
A excursão foi promovida pelo Guarani, um clube que teve, podemos; dizer, uma vida efêmera, pois participou acenas de dois campeonatos oficiais.
Nascido e criado no areal da Estrada de Ferro, perto da feira antiga, o Guarani, possuía bons jogadores e, dentre estes, um dos melhores centro-médios da cidade, um crioulo chamado Manoel da Hora, que jogava com esmerada eficiência.
Mas, vamos ao passeio.
Aproveitando o feriado de 15 de Novembro que. em 1937, caiu numa segunda-feira, os "mulatinos-rosados" ,como era chamado o Guarani pela sua camisa rosa e preta, promoveu uma partida em Itapira, onde depois do jogo haveria um baile no Clube Social Itapirense. Deixamos Ilhéus em plena paz, com as suas atividades normais, creio até que ninguém ou pouca gente sabia das ocorrências políticas verificadas no dia 10, ou seja, cinco dias antes.Tudo ia correndo muito bem. O Guarani, entretanto, vencendo a partida, criou involuntariamente, um problema. Na hora do baile ninguém queria dançar com 03 ilheenses, principalmente, com os jogadores. Mesmo a mais desajeitada dama se julgava- importante a ponto de não aceitar um pedido de Deusdedith que, como um dos responsáveis pela orquestra, convidou os músicos para tocarem num bar perto do Clube.
Dia 15 o regresso. Na primeira parada, antes de Água Preta, começaram os boatos de que Ilhéus: havia sido tomada pelo Exército. Em Água Preta a coisa começou a tomar forma de verdade que só surgiu em Banco do Pedro quando soubemos que o 21º Batalhão de Caçadores tomara conta da cidade e estava efetuando prisões dos políticos dominantes. Eusinio Lavigne estava preso com os seus auxiliares principais.
Octávio Moura, redator do Diário da Tarde, temendo represália que não houve, me orientou para tomar conta do Jornal caso lhe acontecesse, algo, pois a nossa folha era situacionista. Confirmadas as priões e serenada a situação o Cel. Maynard, do 21º BC ficou comandando as ações.
Os integralistas se tornaram donos da situação e orientavam as operações. Getúlio Vargas. havia dado um “golpe" com os integralistas, para depois, em 1938, se virar contra a turma de Plínio Salgado.
Rubens E. da Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 23/11/1977
domingo, 24 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário